Há alguns dias, escrevi sobre a mudança de cidade de alguém especial. Hoje, recebi a notícia de que minha melhor amiga também vai se mudar — e, de repente, tudo parece ecoar o mesmo tema: despedidas.
Senti um misto difícil de descrever. Fiquei feliz por ela — por sua conquista, por ter a chance de recomeçar, respirar um ar que seu olfato não reconhece, se lançar em territórios onde nada ainda lhe pertence, esbarrar em rostos que nada significam, viver novas experiências... Mas, ao mesmo tempo, uma tristeza silenciosa me invadiu (nem tão silenciosa assim).
É estranho sentir falta de alguém que eu já não via com frequência. Nossas rotinas — as minhas, marcadas pelos cuidados com minha mãe; as dela, pelas demandas do trabalho e do filho — já nos mantinham distantes.
Ainda assim, sua simples presença na mesma cidade me trazia conforto. Sua proximidade, mesmo rarefeita, me fazia sentir menos só. Agora, sua ausência parece mais real, mais definitiva. Sinto-me quase como se estivesse órfã. Dá pra entender um negócio desses?
É possível que exista até um pouco de inveja, confesso. Ela está partindo para um novo começo, enquanto eu continuo aqui, há mais de cinco anos vivendo em função das necessidades da minha mãe, que enfrenta Parkinson e Alzheimer.
Às vezes, sinto como se minha vida estivesse suspensa num limbo — não posso me mover livremente, e as únicas possibilidades de mudança são as que não quero sequer imaginar: sua partida definitiva ou uma instituição. Nenhuma dessas opções me traz alívio. Sim, eu teria de volta a minha liberdade, mas perderia sua presença. E, de certa forma, parte dela já se foi há tempos — e a cada dia, outras partes vão lentamente me dizendo adeus.
É engraçado como as partidas se acumulam, como se o vento levasse, uma a uma, as presenças que me ancoravam. Primeiro foi meu cãozinho (falo sobre isso aqui) e agora todas essas saídas que parecem acontecer como num efeito dominó. As partidas se repetem. Não da mesma forma, não ao mesmo tempo, mas como se estivessem em uma dança perfeitamente sincronizada, com um único e específico objetivo: me desestabilizar.
"Nossa, Debora! Quanto drama!"
Tá, tá... talvez eu esteja levemente exagerada.
Mas cada uma dessas partidas deixa um espaço diferente dentro de mim — todos imensos, todos dolorosos.
A ausência de minha amiga me dói não apenas por quem ela é, mas por tudo o que sua presença representava: a segurança de saber que eu não estava sozinha.
A cidade vai ficar mais escura sem a sua luz.
Fico aqui, entre o afeto que fica e o vazio que cresce, tentando entender o que a vida quer me ensinar com tantas despedidas.
De alguma forma, todas elas me lembram que tudo é movimento — mesmo quando me sinto parada. E embora cada uma desperte, em silêncio, o medo de um novo vazio, o que mais me pesa é perceber que, mesmo quando tudo parece igual, há algo em mim que se despede o tempo todo.
As pessoas vão, os ciclos se encerram, e a vida segue trocando os cenários, mesmo quando insiste em me manter presa no mesmo ato.
Pode ser que as despedidas sejam o modo gentil — e ainda assim devastador — que o tempo encontra para me avisar que nem tudo dura para sempre — nem a dor, nem a saudade, nem o silêncio da ausência que fica depois do adeus. A eternidade existe, mas ela acontece no movimento, na transformação, no pulsar da transitoriedade. Tudo está em constante mudança.
Despedidas fazem parte da vida. Mas quem disse que nos acostumamos com elas?
🍀 Fragmentos:
Reflexões em diferentes tons e profundidades — do instante ao infinito. Textos que chegam de leve ou pedem pausa, entre ensaios, crônicas ou apenas um olhar. Aqui convivem a delicadeza do momento e a densidade das camadas. Palavra sentida — seja como for.Escrevo porque não sei não escrever — é meu jeito de arrumar as gavetas da mente e dar nome aos sentimentos.
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Sempre achei difícil lidar com despedidas. Te entendo bem. Faz parte da vida, mas é sempre dolorido. Força pra você!
Eu me reconheci muito nessa tentativa quase teimosa de procurar um “ensinamento” no meio das perdas. Mesmo sem escolher, me sinto transformada por isso tudo.