Eu, às vezes, pareço contraditória. Percebi isso ao comentar o texto “Você voltaria para o seu passado?”, da Raio de Sol 93.
No fim, ela deixa a pergunta no ar — e eu, com muita convicção, respondo: não. Nem para reviver os bons momentos. Porque se eu voltasse a partir de quem sou hoje, já não seria a mesma coisa. Seria a “eu de agora” tentando reviver o que já foi vivido. Nunca será exatamente a mesma experiência.
Como diria meu sempre amigo cachorro Tande (sim, ele dizia — mas isso é assunto pra outra hora, haha): “É pra frente que se anda.”
Contudo — e é aí que vem a aparente contradição — também falei que amooo o filme 'De Volta para o Futuro', citado no texto, e o revejo sempre que posso. E isso não acontece só com esse filme: acontece com vários outros, com séries, músicas, livros e até textos aqui no Substack. Quando algo me toca profundamente, eu revisito. É como se pedisse mais um encontro (ou vários). Enquanto isso, tantas outras coisas “na fila” vão ficando para depois.
Não é curioso que alguém que ama tanto seguir em frente olhe tanto para trás? No mínimo... intrigante.
Mas existe um ponto importante: eu não desejo reviver o passado. E olha que tive muuuuitos momentos maravilhosos. Entretanto, pra mim, passado é passado. Por mais inesquecíveis que tenham sido, não carrego aquela nostalgia que pede repetição. Apenas lembro deles com carinho e gratidão. Provavelmente por tê-los vivido plenamente, enquanto estavam acontecendo — com alma e intensidade.
Então, será que existe mesmo contradição?
Ou será que fomos ensinados a acreditar que memória e movimento são opostos — quando, na verdade, memória é combustível, não âncora?
Revisitar1 o que amamos é reconhecer o que aquilo acendeu em nós e o que ainda permanece vivo. Assistir de novo a um filme querido, reler um texto que marcou, ouvir uma música que fez parte da nossa história, olhar velhas fotografias… não é andar para trás. É honrar o caminho. É lembrar quem fomos para sustentar, com mais verdade, quem estamos nos tornando.
É afeto, não nostalgia melancólica. Carinho guardado em forma de cenas, sons e palavras. E isso não contradiz o “é pra frente que se anda.”
Pelo contrário: talvez só siga em frente, de verdade, quem sabe se nutrir das memórias sem se prender a elas.
Acho que não sou contraditória. Sou humana.
E, o engraçado é que, muitas vezes ao revisitar, a percepção muda. Releio um livro que me tocou profundamente da primeira vez, e agora ele é apenas: ok, legal. Mudou o livro? Lógico que não! Fui eu. Foi o meu olhar. Foram as experiências que vivi depois, que moldaram novas lentes para minha visão.
Em compensação, existem aqueles que continuam especiais, mesmo após milhões de releituras e reassistidas — sempre tocando de forma diferente, revelando aspectos que antes não eram visíveis, despertando novas fibras do coração.
Não é mágico como algo que ressoou profundamente no passado pode continuar reverberando do mesmo jeito, e ainda assim se revelar de novas formas? Pra mim, isso é magia pura.
Carregar o passado com ternura, sem me agarrar a ele, e escolher o futuro com coragem, sem atropelar o que me trouxe até aqui, é valorizar minha história com novas cores e me permitir ter tanto prazer hoje, quanto tive ontem na primeira perspectiva — sem ficar presa lá.
Lembrar de quem fui, do que me tocou, do que fez minha alma vibrar ontem — não como vibra hoje, mas com a mesma verdade — é uma das infinitas maravilhas que fazem a vida valer muito. Crescer é andar para frente, sim — mas levando na bagagem os fragmentos mais bonitos do caminho.
O tempo nos traz aquela sabedoria serena que abraça contradições em vez de querer resolvê-las.
É quase como se a "eu do passado" e a "eu do presente" se dessem as mãos e, juntas, seguissem adiante. Não para voltar no tempo, nem repetir o mesmo enredo. Mas para ir inteira. Para viver — de novo — com outro olhar, outro coração. E quem sabe seja essa a nossa máquina do tempo particular.
Alguns dos livros, filmes e séries que o meu coração sempre revisita sem enjoar (pelo menos por enquanto):
Filmes:
• E o vento levou (falo dele aqui)
• Trilogia De volta para o futuro
• Trilogia Matrix (ainda não assisti o 4°)
• Os seis primeiros Star Wars (ainda não vi os outros)
• A felicidade não se compra
• Meninas Malvadas
• Titanic
Séries:
• Friends (essa, a louca aqui termina de olhar e já começa de novo. Até agora não enjoei. Será que um dia vou cansar?)
• Pretty little liars
• The bold type
• Suits
• The next step
• Sweet magnolias
• A feiticeira
• Jeannie é um gênio
Livros:
• O amor venceu (Zibia Gasparetto)
• A vingança do judeu (J.W.Rochester)
• A trilogia da Madhu (Melissa Tobias)
• A trilogia Para todos os garotos que já amei (Jenny Han)
• Os seis livros da Seleção (Kiera Cass)
• Os dois livros sobre Atlântida (Roger Bottini Paranhos)
• Os “Não se...” , da Isabela Freitas (menos o último, que ainda não li)
• Todos os livros do Calunga pela mediunidade de Luiz Gasparetto
• Todos os livros de crônicas da Martha Medeiros.
Obs.: Todas essas obras me marcam por diferentes razões. Não tenho nenhuma pretensão de ser crítica de literatura, cinema ou séries — são apenas impressões pessoais, guiadas pelos meus próprios sentidos e vivências.
Textos relacionados:
Novas múmias, Brumas do passado
🍀 Fragmentos:
Reflexões em diferentes tons e profundidades — do instante ao infinito. Textos que chegam de leve ou pedem pausa, entre ensaios, crônicas ou apenas um olhar. Aqui convivem a delicadeza do momento e a densidade das camadas. Palavra sentida — seja como for.


Perfeito!!
Sou uma pessoa nostálgica também. Às vezes até sinto que sou a mesma adolescente de 10 anos atrás, mas sei que sumos completamente diferentes. Fica aquela vontade de revisitar essa época. Era… diferente. Mas ainda escolho o hoje.
Eu penso que o passado sempre fará parte do presente. É verdade o que você disse. Isso porque estamos sempre tentando nos entender e o autoconhecimento começa por ele. É natural. Tem muitas coisas que só compreendemos depois que passa. Houve um tempo atrás em que eu até estava me culpando por ser tao nostálgica assim, mas é o que você disse Débora: só somos humanos. Faz parte.